O abraço que salva

junho 27, 2011

Conversa com meu povo
Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

O abraço que salva

Há uma interrogação profunda no coração humano. E existe a experiência do mal e do pecado, que clama atenção da parte de cada pessoa. "Sede sóbrios e vigilantes. O vosso adversário, o diabo, anda em derredor como um leão que ruge, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé, certos de que iguais sofrimentos atingem também os vossos irmãos pelo mundo afora" (1 Pd 5, 8-9). E o mistério do sofrimento? Quantas sejam as respostas, maiores serão as perguntas.

Há um jogo contínuo entre os momentos de alegria e de dor, que fazem parte de nossa natureza, não conduzida por qualquer espécie de "controle remoto" da parte de Deus, mas pelas leis que Ele mesmo inscreveu, quando criou o universo, grande e bonito, suficiente em seus recursos para a vida, entregue à humanidade, cuja responsabilidade imensa se encontra nas palavras do livro da criação: "Deus os abençoou e lhes disse: "Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão". Deus disse: "Eis que vos dou, sobre toda a terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo chão, eu lhes dou todos os vegetais para alimento". E assim se fez. E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: o sexto dia" (Gn 1, 28-31).

E como veio o sofrimento? Deus errou? É a pergunta que muitos fazem! A Escritura responde: "não procureis a morte com uma vida desregrada, e não provoqueis a ruína com as obras de vossas mãos. Pois Deus não fez a morte, nem se alegra com a perdição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do orbe terrestre são saudáveis: nelas não há nenhum veneno mortal, e não é o mundo dos mortos que reina sobre a terra, pois a justiça é imortal. Mas os ímpios chamam a morte com gestos e palavras: considerando-a amiga, perderam-se e fizeram aliança com ela: de fato, são dignos de pertencer ao seu partido" (Sb 1, 12-16).

Após o pecado do orgulho e da autossuficiência, começou o grande drama! Mistério profundo, impasse, nó górdio para todas as gerações, culturas e religiões sobre a terra. Nos livros da Sagrada Escritura e por toda parte, onde quer que alguém se dedique à aventura maravilhosa  de pensar a existência, este é o ponto focal.

Como Deus tratou a questão do sofrimento? Existe uma resposta na Bíblia? O sofredor Jó debate com Deus e os amigos, estes nem sempre campeões de bom senso. Ao final se rende a Deus e reencontra a luz para a existência! Mas passou pelo vale da escuridão, permanecendo fiel a Deus que o criou e amou. O Livro do Eclesiastes, aparentemente pessimista, depois de constatar que tudo é vaidade, chega a uma conclusão: "Fim do discurso, ouvidas todas as coisas: teme a Deus e observa seus mandamentos, eis o que compete a cada ser humano" (Ecl 12, 13). Deus não oferece respostas teóricas, mas convida a percorrer com Ele um caminho. É uma história de salvação.

As dificuldades e lutas existem na vida humana e não há receitas prontas para explicá-las cabalmente. Deus não inventou o sofrimento. Nem foi seu Filho Unigênito que se fez carne, humilhou-se até a morte de Cruz, tornou-se obediente e tomou sobre si as nossas dores, o causador dos problemas humanos. Só em Jesus Cristo o nó se desfaz, justamente porque Deus veio até nós, na misericórdia infinita da Encarnação de sua Palavra Eterna. Não tendo inventado o sofrimento, ele sofreu! Inocente, tomou sobre si as nossas culpas! Nele, cada dor assumida é redenção para a humanidade. Ao invés de dar explicações, percorreu o caminho da humanidade, tomou sobre os ombros a Cruz, abraçou-a, fez-se igual a nós em tudo, menos no pecado. E a humanidade encontrou sua liberdade, a salvação.

Cabem-nos duas atitudes. A primeira é o acolhimento da salvação. A gratuidade da resposta a Deus é exigência da aventura da fé! Abraçar livremente aquele que por nós abraçou, redimindo, a Cruz e todos os sofrimentos humanos. Em seu abraço de amor somos acolhidos! E, como amor com amor se paga, o segundo passo é nossa resposta: com a graça que nos dá o Senhor Jesus Cristo, transformar em amor as pequenas ou grandes dores. A prática é tão simples como exigente! Até um copo de água fresca, dado por amor, não ficará esquecido (Cf. Mt 10, 37-42). Esta é a lei da vida! Só entende quem experimenta!

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Fundada no ano de 1758 no Distrito de Benfica, Município de Benevides, Estado do Pará. Administração: Pe. Saul Muniz, mps

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