Aproxima-se a Semana Santa, na qual a Igreja ganha grande visibilidade, mostrada nas vitrines dos meios de comunicação, em suas celebrações litúrgicas e em todas as manifestações, de acordo com as diferentes culturas, com as quais o amor maior, Jesus Cristo, em sua Morte e Ressurreição, é posto em espetáculo! Sim, desde as procissões de Ramos encontradas pela peregrina Etéria em Jerusalém, no século IV, até as encenações da paixão com teatros a céu aberto de nosso tempo, o mistério inesgotável de Cristo continua sendo o argumento mais explorado e nunca esgotado.
Artistas se encantam pela primeira vez com os personagens que são chamados a representar, sentindo inclusive ressoar em seus corações as raízes da fé, quem sabe plantadas na infância e guardadas num cantinho reservado da consciência. Novas gerações, representadas por crianças, apenas chegadas à maior compreensão dos acontecimentos, que começam a descobrir uma formação feita de procissões e teatro, de emoções e surpresas. Deverão progredir, pouco a pouco, dos sentimentos à fé, tarefa de pais, Igreja e catequistas, aos quais são confiados os pequeninos de Deus que se encantam com ramos, assistem estupefatos o lava-pés ou choram diante da maldade daqueles que crucificaram Nosso Senhor.
Às gerações de adultos mais maduros na fé cabe a responsabilidade de sair das ruas, das encenações e procissões e entrar na Igreja, onde não se assistem a espetáculos, mas se torna presente o mesmo Senhor, em sua Morte e Ressurreição, fonte de vida e de graça para todos que deixam de ser espectadores para se envolverem no mistério vivido! O ano litúrgico da Igreja é uma delicadeza pedagógica, com a qual, a mesma realidade da fé no Cristo ressuscitado é celebrada intensamente, a partir de ângulos diferentes, para que todos cheguem à renovação de seus compromissos batismais, na festa maior que é a Páscoa.
Páscoa é como o aniversário de batismo de cada cristão! Para celebrá-la bem, nas semanas que correm os cristãos foram ao encontro de uma Mulher Samaritana e descobriram de novo aquele que é a fonte de água viva que jorra para a vida eterna e souberam que, sendo batizados, também eles se tornam fonte para os outros, não lhes sendo lícito permanecerem indiferentes a ninguém, já que todas as pessoas são candidatas à mesma comunhão com Deus. Todos foram apresentados ao Cego de nascença, cujos olhos foram abertos por Jesus. Descobriram-no como Luz do Mundo e entenderam que seu Batismo, também chamado de Iluminação, abriu-lhes perspectivas inusitadas, cujo nome é fé!
Enfim, antes de entrar na chamada Semana Maior - Semana Santa, o Jesus que é Água viva e Luz do Mundo lhes é de novo apresentado. Desta feita, o convite é a visitar Betânia, cujo nome significa "Casa do Pobre" ou "Casa da aflição". Lázaro está morto (Jo 11, 1-44). É uma situação trágica, pois morreu o amigo de Jesus. A morte assusta, mesmo quando as pessoas quase se acostumam, quando em nosso tempo é noticiada exaustivamente dia a dia, como um fato a mais, sem muito mistério ou sacralidade!
Para Jesus, seus apóstolos e os amigos de Betânia, as coisas são diferentes. Marta que reclama pelo atraso de Jesus expressa nossa reação diante da morte de uma pessoa amada. O choro de Jesus pelo amigo morto é choro de Deus pela realidade da morte presente na humanidade e também choro diante de sua própria morte que se aproxima. A Salvação que traz deve tocar no mais fundo da realidade humana. Quando faz seu amigo voltar à vida, Jesus anuncia a completa libertação da morte. Existe esperança!
O relato evangélico passa, num maravilhoso crescendo, da narração da doença à morte e sepultura e o retorno à vida do amigo Lázaro, cujo nome quer dizer "Javé ajuda". Transparece a humanidade cheia de ternura de Jesus, com emoção, lágrimas, declaração de amizade e revelação do Filho de Deus.
O "Credo" de Marta sintetiza esta rica realidade: "Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que deve vir ao mundo". A resposta de Jesus é promessa de vida: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais (Jo 11, 25-26).
Diante do sepulcro de onde sai Lázaro, Jesus proclama ser Ressurreição e Vida. Mas sabemos que Jesus deverá entrar no sepulcro da morte, ser envolto em faixas como seu amigo Lázaro e ressuscitar ao terceiro dia. Cristo é para todos os homens e mulheres, feridos de morte pelo pecado, Ressurreição e Vida! Saímos do velório de Lázaro, ouvimos o grito de Jesus a todos os lázaros da história, passamos pelo Cenáculo, Sinédrio, Getsêmani e Pretório e daí chegamos ao Calvário, para amanhecer no Jardim da Ressurreição. Não perca os detalhes e participe de tudo!
Dom Alberto Taveira Corrêa